Monday, March 30, 2009

A Feitoria no Café Portugal

A Feitoria - O preço justo pelas artes tradicionais portuguesas
Longe vai o tempo em que as feitorias serviam, além-mar como linha avançada de posto comercial do, então, império colonial português. Hoje, no virtual, os oceanos transpõem-se numa questão de segundos e o entreposto do mundo português toma a forma de uma loja online. O produto é contudo, bem palpável. A Feitoria reúne no mesmo espaço virtual a filigrana minhota e a camisa típica da Nazaré, tal como outros produtos tradicionais portugueses. Numa pausa nas suas viagens de norte a sul do país, Alexandra Melo, mentora do projecto, arranjou tempo para falar com o Café Portugal. Contado na primeira pessoa, fica a filosofia de preço justo da loja e os périplos para conseguir parcerias comerciais.
Carla Santos | quarta-feira, 25 de Março de 2009


O espaço Feitoria surgiu de uma ideia de Alexandra Melo que viu na comercialização online de produtos tradicionais portugueses um nicho de mercado. «Pareceu-me que havia um mercado para estes produtos, sobretudo na internet, porque abria as portas a um espaço muito maior que o da loja de rua, disponibilizando produtos, muitos deles, digamos assm, quase em vias de extinção» explica a empresária.
Surge então a página na Internet, as pesquisas e viagens de norte a sul de Portugal para obter os produtos na fonte, ou seja, junto dos artesãos.
São mais de 400 os objectos tradicionais disponíveis via online e, contrariamente, às expectativas da responsável que passavam por «ter mais clientes lá fora, registou-se também uma adesão fortíssima de portugueses a residir em Portugal, pessoas que conviveram muito com aqueles objectos quando eram novas ou até pessoas mais novas que encontraram encanto naqueles objectos». A Feitoria atrai, também, estrangeiros, residentes noutros países, que se identificam com os produtos e também os compram.
As especialidades gastronómicas são as que têm uma grande apetência entre os internautas da Feitoria. «Só podemos vender as que têm capacidades de resistir à viagem de dois ou três dias no correio» clarifica a mentora do projecto. O típico Galo de Barcelos, a filigrana do Minho e até mesmo os trajes regionais são os produtos mais comercializados pela loja.

Os artesãos:
Alexandra Melo afirma que alguns artesãos a receberam com surpresa. Estes pensavam que o material que produziam já não tinha interesse junto do grande público. Da convivência com os artífices a empresária retira que estes têm algumas dificuldades no escoamento do seu trabalho, «tenho verificado que as pessoas não têm capacidade ou meios para fazer o marketing do escoamento daqueles produtos». Alexandra chegou mesmo a ouvir da parte dos artesãos o seguinte: «ou trabalho ou dedico o meu tempo a fazer divulgação ou a promoção».

A responsável pela loja online acredita que «caberia às chamadas associações de desenvolvimento ou associações de artesãos que existem fazer esse trabalho por estes. Parece-me que não está a ser feito da melhor maneira». Perante este cenário Alexandra ainda tentou fazer a ponte com algumas associações informando-as que «sou um privado tenho dois anos de levantamento e de colocação e distribuição destes produtos na Internet. Quis propor-lhes um trabalho de parcerias, mas não tenho tido respostas». Acrescenta que «parece que não há abertura nem vontade de fazer pontes».
Ainda em número reduzido, pequenas empresas e oficinas já chegaram também à fala com a Feitoria para parcerias, «ou até mesmo pessoas mais novas com uma visão mais empreendedora» conclui a empresária.

Os produtos pelo preço Justo e as viagens
Pagar o preço justo pelos produtos é um dos princípios do projecto. Para constar na montra virtual da feitoria os bens artesanais «têm de ser o mais genuínos possível e não reinterpretações contemporâneas. Têm, ainda, que usar os produtos tradicionais» garante a responsável que paga «o preço que os artesãos pedem; um valor que considero justo. Depois, tentamos pôr umas margens não muito altas para haver uma dinâmica de circulação destes produtos».
Para além da pesquisa é necessário viajar para encontrar os produtos. A mentora da Feitoria conta que «começámos a fazer as Viagens Feitoria e anunciamos na newsletter e nos outros meios de comunicação com os clientes. Anunciamos a viagem e a rota que vamos fazer e se essas pessoas tiverem sugestões ou encomendas que queiram fazer daqueles locais, podem contactar-nos». As viagens têm como objectivo «não só ver os artesãos, como também o contexto onde estão inseridos, ver os produtos locais. No fundo trata-se de conhecer a realidade em que eles estão integrados» explica Alexandra Melo.
A curto prazo a Feitoria vai fazer uma parceria com a Vida Portuguesa, um projecto de Catarina Portas, com loja aberta no Chiado, Lisboa. Como não tinham espaço na internet, Alexandra Melo desafiou-os a entrar na rede através da Feitoria. «São dois projectos que vão unir e vão estar na mesma loja online» explica a mentora da Feitoria.
Aqui fica o link para a reportagem on line no Portal "Café Portugal":