Wednesday, February 6, 2008


VISITA


Adornou o meu quarto a flor do cardo,

Perfumei-o de amílscar rescendente;

Vesti-me com a púrpura fulgente,

Ensaiando meus cantos como um bardo.

Ungi as mãos e a face com o nardo

Crescido nos jardins do Oriente,

A receber com pompa, dignamente,

misteriosa visita a quem aguardo.

Mas que filha de reis, que anjo ou que fada

Era essa que assim a mim descia,

Do meu casebre à húmida pousada?

Nem princesas, nem fadas. Era, flor,

era a tua lembrança que batia

Às portas de ouro e luz do meu amor!


in «A Geração de 70» Sonetos de Antero de Quental, prefácio de Oliveira Martins, Circulo de Leitores, 1987